Boca no trombone
- Rosa Miranda

- 15 de ago. de 2018
- 2 min de leitura

Preso e impedido de se pronunciar publicamente, o ex-presidente Lula resolveu literalmente botar a boca no mundo. Um artigo de sua autoria, traduzido para o inglês, foi publicado nesta terça-feira (14) pelo jornal norte americano New York Times, no qual Lula defende seu lado logo a partir do título: “Eu quero democracia, não impunidade”. No texto, ele repete o discurso de que existe um golpe da direita em curso no Brasil, e volta a defender a legalidade da sua nova candidatura à Presidência da República, mas adverte que “o tempo está correndo contra a democracia”.
Na verdade, o artigo não traz, em si, nenhuma novidade ou revelação bombástica. Seu real objetivo é refrescar a memória internacional de que, no Brasil, há um ex-presidente da República preso, por motivos que continuam sendo questionados por parte da sociedade. Daí Lula repetir a tecla de que não pretende se colocar acima da lei, mas receber um julgamento justo, e atribuir sua prisão às “forças de direita” que, segundo ele, ignoraram propositalmente as evidências da sua inocência e lhe negaram um habeas corpus para evitar que dispute novamente o poder no Brasil.
No desabafo ao NYT, Lula lembra o tanto de rejeição que suas sucessivas candidaturas receberam nos setores empresariais e no mercado financeiro, mas ao vencer as eleições em 2002, o crescimento econômico conquistado no seu primeiro mandato acalmou todos os ânimos. Refresca ainda a memória do leitor citando números a respeito da inserção das classes mais pobres no mercado, interrompida com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016 e da sua prisão, no início deste ano. Com novos ataques ao juiz Sérgio Moro, ele reforça a tese de um golpe político, “em câmera lenta”, deflagrado para deter o avanço das forças progressistas no Brasil.
Num tom bem próprio que costuma adotar em seus discursos, desde a época do movimento sindical, Lula cobra “respeito à democracia” e lança um dos seus desafios mais conhecidos pelos brasileiros: “Se eles querem me derrotar de verdade, façam nas eleições. Deixem o povo brasileiro decidir”, escreve o petista no artigo, publicado apenas um dia antes do encerramento do prazo de registro de candidaturas às eleições no país.
Com a condenação em segunda instância, Lula ficou impedido pela Lei da Ficha Limpa de concorrer às eleições, posição contestada insistentemente pelo PT, que amanhã planeja fazer a inscrição do seu líder maior no páreo presidencial, em meio a mobilizações midiáticas em todos os Estados do país. Ainda que o Plano B dos petistas já esteja pronto: a chapa com o ex-ministro Fernando Haddad (PT) na cabeça, tendo como candidata a vice-presidente a ex-deputada gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB).
Matéria original no site sergiomontenegro.com.br, disponível aqui.





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