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LUGAR DE ESCUTA

  • Foto do escritor: Rosa Miranda
    Rosa Miranda
  • 3 de fev. de 2021
  • 5 min de leitura

Atualizado: 1 de nov. de 2023


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Muito já foi dito sobre lugar de fala, embora pouca gente realmente entenda o que significa. Vivemos um mundo de muitos conceitos e de pouco fazeres. Hoje vou escrever sobre o lugar de escuta, que para mim é irmão do lugar de fala. Para andarem juntos, eles precisaram do politicamente correto e da empatia. Na pós-modernidade é assim: sem um nome de impacto, que resuma o inconsciente coletivo, nada existe de verdade.


Desde quando estava grávida do meu filho mais novo (ele hoje tem 14 anos), eu vejo as pessoas falarem do politicamente correto. Lembro que eu era chefe da Ascom no TJPE (pela primeira vez, aos 28 aninhos) quando em 2004 chegou a Cartilha do Politicamente Correto do Governo Federal. O presidente do TJ-PE era um professor, um grande humanista, o desembargador Macedo Malta, e ele me autorizou a distribuir automaticamente. Era Lula o presidente da república e os Direitos Humanos viviam sua fase dourada. Mas, pasmem, mesmo dentro da Ascom (um setor de gente “moderna”), eu ouvi críticas e piadas sobre a cartilha e essas coisas de Direitos Humanos.


Em 2006, tive meu filho e, enquanto no trabalho e nos bares o politicamente correto gerava debates intensos, nas escolas das minhas crianças era tudo normal, tranquilo. Eu já tinha uma filha de 5 anos e todos aqueles cuidados com o outro já eram ensinados nas escolas. Eu tinha dois mundos. Um fora e outro dentro de casa. Meus filhos me corrigiam e eu adorava. Sou como meu pai, gosto de ser uptodate, de ser contemporânea, de me sentir viva e iluminada pelas novas gerações.


Mas, confesso que rever nossos conceitos não é fácil. Sou da turma dos direitos humanos desde o Colégio Damas, onde participava do Damarte com meu amigo constitucionalista Labanca. Porém, foi só recentemente, com a colega Aline Vieira, que aprendi como são essenciais as questões de meio ambiente. Eu ficava irritada quando Gabriel (meu filho) controlava meu tempo no banho. Depois de Aline, sou ligada na água até na hora de lavar os pratos. Mas não é fácil. Tem sempre aquele dia que tenho compaixão de mim mesma e tomo um banho quente de uma hora (#nãovoumentir). Também estou comendo cada vez menos carne vermelha influenciada por minha filha. Mas se for um churrasco, não resisto. Ou seja, já sei que é errado. Porém, mudar as práticas é uma luta interna.


Temos uma tendência de repetir slogans, de falar frases feitas e seguir padrões. Inclusive os errados. Seguir cegamente a opinião pública para se sentir com a razão é só infelicidade. Precisamos pensar mais antes de sucumbir a nova doença mental: Ansiedade Digital. Também não ouvimos de verdade quando o outro erra. Precisamos ouvir os diferentes, os errados, os imaturos. Precisamos sentir o contexto deles. Não transformar um rosto, uma vida toda, em um rótulo. Uma opinião reflete um momento. Um ser humano não é um produto para você catalogar. Não podemos controlar o mundo etiquetando pessoas. Isso é suicídio intelectual. O certo é ouvir com atenção, inclusive quem pensa diferente. Eu fiz essa reflexão para a gente lembrar que o politicamente correto e a empatia são novos caminhos que nos deixam inseguros, mas valem ser desbravados. Evoluir para uma sociedade com cultura de paz é uma esperança de todos que nunca ficará fora de moda.

Dia desses visitei o Compaz e fiquei encantada com a possibilidade de mais espaços públicos. Sempre disse para minha mãe que shopping não é praça. Trabalhei na prefeitura de São Lourenço da Mata e uma das coisas que a gente priorizava eram as praças e a iluminação pública. Conversar real para refletir virtual. A gente precisa acreditar que as pessoas mudam, acreditar que temos uma missão, acreditar que ética e paixão podem ser conciliadas, acreditar na transparência, em um capitalismo consciente e em relacionamentos sustentáveis. Para tudo isso existir, não basta decorar os conceitos. Precisamos promover diálogos para cocriar conceitos que reflitam uma sociedade conciliada. O combinado não sai caro.


Eu acredito na CNV como ferramenta para facilitar esse processo de promover a cultura de paz.

Confira aqui 5 dicas de Comunicação Não Violenta.


1. Observação, sentimentos, necessidades e pedidos

Em um primeiro momento, devemos observar o que está acontecendo de fato, sem julgar e sem juízo de valores. Assim, temos uma declaração do que estamos observando que pode (ou não) ter nos agradado. Em seguida, identificamos e nomeamos o que estamos sentindo em relação ao que observamos (felicidade, tristeza, mágoa, irritação, dentre outros).

Então, informamos as nossas necessidades, valores e desejos que estão conectados aos sentimentos que nomeamos anteriormente. Em outras palavras, quais são as nossas necessidades. Por fim, podemos pedir que determinadas ações concretas sejam realizadas, de forma a atender nossas necessidades.


Um exemplo de como podemos nos comunicar usando estes quatro componentes seria: gastamos no projeto mais do que foi orçado e estou preocupada, pois para mim é muito importante cumprir com o que combinamos com o cliente. Gostaria de te pedir para analisar o que podemos fazer para que isso não ocorra novamente.


2. Evite interpretações e julgamentos

Apesar de todos nós concordarmos que não devemos julgar uns aos outros, fazer isso na prática é muito difícil. Quando você faz declarações como: “Ela nunca cumpre o prazo”; “Ele é desorganizado”; “Você não sabe receber feedback”, você está atribuindo valores às pessoas.


Se tentarmos reformular estas sentenças e remover o julgamento, elas poderiam ficar assim: “Seus dois últimos projetos atrasaram 10 e 15 dias”; “Nas três vezes que eu entrei na sua sala esta semana sua mesa estava cheia de materiais espalhados”; “Te dei um feedback ontem e você ficou se justificando”.


3. Faça pedidos concretos, positivos e que possam ser verificados

Uma grande dificuldade nossa é fazer um pedido, porque muitas vezes não sabemos aquilo que queremos pedir. Se nós não identificarmos as nossas necessidades antes, e só focarmos em nossos sentimentos e no julgamento dos outros, fica quase impossível identificar aquilo que realmente queremos pedir.


Se conseguirmos identificar nossas necessidades, relacionando-as aos nossos sentimentos, é mais fácil fazer um pedido. Porém, isso não é tudo, porque temos que fazer pedidos claros e objetivos às pessoas. Pedidos realizados com uma linguagem positiva são mais fáceis de serem entendidos, ou seja, é bem mais simples entender o que uma pessoa quer que nós façamos do que entender o que ela não quer que façamos.


4. Desenvolva a escuta empática

Para Marshall Rosenberg, empatia significa esvaziar a mente e ouvir com todo o nosso ser. Precisamos estar presentes para o outro, tentando identificar suas necessidades e sentimentos, oferecendo compaixão e acolhimento.


É comum nós nos preocuparmos mais em dar conselhos, ajudar a resolver a situação ou contar nossas experiências quando, na verdade, não se trata de nós, mas do outro.


5. Experimente trocar as palavras obrigada/o, de nada e desculpe por, respectivamente grata/o, foi um prazer e sinto muito

A palavra obrigada/o está relacionada a obrigação e na verdade o que você quer ao dizer obrigada/o é agradecer, assim é melhor dizer que você é grata/o. Ao dizer “de nada”, você está menosprezando algo que fez, que pode até ter te custado tempo, empenho etc. Neste sentido, seria melhor dizer “foi um prazer”. Por fim, quando você se desculpa, no fundo quer dizer que sente pelo que ocorreu, assim seria melhor dizer “sinto muito”.


Com estas dicas podemos ver que a CNV não é apenas um método de comunicação, mas um jeito diferente de enxergar a vida e as relações com outras pessoas, sempre com empatia e compaixão.





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